“As PANC são a solução! São alimentos do futuro porque fizeram parte de passado, e temos que fazer este resgate do passado para garantir nosso futuro”, foram as primeiras palavras da nutricionista Irany Arteche, uma grande divulgadora das Plantas Alimentícias Não Convencionais, na abertura da Vivência PANC e a geração de renda, realizada domingo dia 8, na aldeia Ka’aguy Porã (Retomada Nação Guarani) em Maquiné/RS.  Junto à Irany, outros grandes pesquisadores e divulgadores das PANC: o botânico Valdely Knupp e o engenheiro agrônomo Nuno Madeira trataram sobre o tema, nos espaços da Escola Autônoma Tekó Jeapó.

Participaram agricultores/as familiares agroecologistas, educadores/as ambientais, empreendedores/as de turismo rural, professores/as e interessados/as. O evento também contou com a presença ilustre da comunidade da aldeia, bem como das lideranças Mbyá Guarani das aldeias: Ka’aguy Porã e Guyra Nhendu, de Maquiné; Tapé Porã; Mirim; Coxilha da Cruz; Guapoy; Tenondé; Água Grande; e Tava’i e vindos dos municípios de Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel, Camaquã e Cristal. Além deles, integrantes do coletivo Comunicação Kuery realizaram as filmagens da Vivência.

Foto: Tatiane Alberton

Com o objetivo de difundir e popularizar os potenciais agronômicos, gastronômicos, de empreendedorismo, nutritivos e ambientais da biodiversidade local e fortalecer as PANC como alimentos dotados de sabor, nutrientes e cultura, a vivência fez parte de um circuito que incluiu as cidades de Pelotas, Passo Fundo e Porto Alegre. A organização do evento em Maquiné foi feita em parceria entre o Projeto Taramandahy/Anama, Centro Ecológico Litoral Norte e Rede de Orgânicos de Osório.

Foto: Anaiara Ventura

Antes de iniciar o preparo das receitas com as PANC, Irany Arteche enfatizou a importância de todos/as em “sair dali com a missão de promover uma mudança”. Ela orientou as preparações de receitas com as PANC na cozinha coletiva da aldeia e na cozinha montada dentro da escola indígena, numa integração entre não indígenas participantes e as mulheres Guarani.  Irany é nutricionista, mestre em Fitotecnia e membro da diretoria da Associação Gaúcha de Nutrição.

Foto: Rafael Camargo

Nuno Madeira falou das possibilidades de produção local de alimentos em confluência com as PANC. Ele é doutor em Fitotecnia e pesquisador da Embrapa Hortaliças Nacional, atuando principalmente nas linhas de pesquisa de “Cultivo de hortaliças em sistema de plantio direto”, “Cultivo de Mandioquinha-salsa (Batata-Baroa)” e “Hortaliças Tradicionais (Hortaliças Não-Convencionais)”.

Foto: Tatiane Alberton

Valdely Kinupp relembrou que o nascimento do acrônimo PANC veio de Irany, e reforçou que as PANC são um ‘prato cheio’, tanto para o ensino e pesquisa, quanto para o empreendedorismo e uma resposta para a fome no mundo. Ele ressaltou que só no RS existem, no mínimo, 5 mil espécies de plantas nativas, das quais 1 mil são alimentícias não convencionais: “Vocês têm mil plantas conterrâneas para comer!” Valdely Kinupp é doutor em Fitotecnia, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, orientador no Programa de Pós-Graduação em Botânica do INPA e autor do livro Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil em coautoria do Harri Lorenzi (Editora Plantarum, 2014).

Foto: Tatiane Alberton

Após a identificação e conversa sobre os usos e possibilidades de gerar renda com as PANC, todos/as almoçaram os diferentes pratos elaborados com elas e de forma não convencional, como salada de banana verde; Pirão de PANC; pinhão com molho de juçara e pétalas de malvavisco; salada com geleia de trevo; salada com cará moela assado na brasa; arroz integral com pupunha do litoral norte gaúcho e alho poro; arroz com picão branco e partes alimentícias não convencionais de brócolis; refogado de PANC com ovo; refogado de umbigo da bananeira e caldo de mandioca com juçara e pimenta murupi, além do tradicional avaxi ku’i (milho tostado com cinza e triturado em pilão com amendoim assado) guarani.