A natureza do ato de alimentar é coletiva, envolvendo pessoas que trocam experiências a partir da feitura da comida. Foi a partir deste comprometimento que o Projeto Taramandahy – Fase III realizou a oficina de Culinária e Agroecologia na Tekoá Ka’aguy Porã (Aldeias Mato Sagrado) de Maquiné no dia 17 de agosto: uma vivência culinária com as comunidades M’byá Guarani. Tudo começou com o javyju (bom dia) dado pelos Guarani e uma conversa em volta do fogo de chão feito no interior da Tekó Jeapó – escola da aldeia construída em mutirão. 

Segundo Valéria Bastos, técnica responsável pela oficina junto com Janaína Soares, a proposta integra os demais focos de trabalhos que o Projeto vem realizando  na tekoá (aldeia), como o de implementação de saneamento ecológico, sistemas agroflorestais, entre outros, com a vivência em culinária e agroecologia, buscando fortalecer as formas de preparação de alimentos dos guarani, resgatando e valorizando seu conhecimento, fomentando a troca de experiências sobre a comida, tudo sob a bandeira  da alimentação saudável e dos alimentos da sociobiodiversidade.

Para o cacique André Benites, “…a troca é importante, pois cada um tem sua experiência e vai aumentar com esta troca… Chegou o momento de fazer junto, pensar junto. Hoje vivemos em dois mundos diferentes. Por isso, para mim é muito importante o que está acontecendo… No caso das mulheres guarani, todo dia é dia de alimentação, qualquer hora é hora… Temos esperança em juntar conhecimentos, vivências e experiências e se acostumar uns com os outros, aceitando as diferenças.”

A conversa deu lugar para o início das trocas culinárias, com cozimento sobre o mesmo fogo. Além das mulheres guarani – que tradicionalmente são quem preparam os alimentos – as crianças também estavam junto e colaboraram, junto com uma parte da equipe do Projeto. Foram feitos o cuscuz e o omelete com PANC (plantas alimentícias não convencionais), o m’bojape m’byta (como um pão feito somente com farinha de milho e água e assado envolvido em cinza direto no fogo), o beiju (como uma tapioca a base de polvilho), o avaxucui (milho tostado com cinza e triturado em pilão com amendoim assado). Também foi preparada biomassa de banana verde e couve refogada. Após, foi produzido um xarope caseiro plantas medicinais, brigadeiro de biomassa de banana verde para cobertura do bolo de laranja com juçara, suco de juçara com limão e “chipá” (massa de farinha de milho e de trigo frita).

As oficinas de culinária agroecológica já contam com dez anos de caminhada nos projetos desenvolvidos pela Anama, mas foi a primeira integração com a cultura alimentar M’byá Guarani.