Encontro contou com as presenças de Sebastião Pinheiro e Rafinha Duarte

Saúde Integral e Agroeocologia foram as máximas do Grande Encontro que aconteceu dia 20 de outubro, em Maquiné/RS reunindo as famílias assessoradas pelo Projeto Taramandahy – Fase III no processo de transição para agricultura de base ecológica.

A Oficina de Mulheres na Agricultura Familiar: construindo Agroecologia e cuidando das águas, solos e florestas proporcionou um momento para que agricultoras e agricultores fizessem um balanço da atuação do Projeto em suas vidas, no fortalecimento da agroecologia, das mulheres e dos jovens agricultores e da saúde em todas as áreas (física, mental, da água, do solo, das florestas). Além disso, dedicaram-se a planejar ações possíveis de serem integradas em uma futura fase do projeto.

Durante a manhã, reunidos/as em grupos, as famílias atendidas apresentaram suas avaliações sobre as ações que o Projeto realizou ao longo de 24 meses com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal. Também buscaram levantar sugestões e expectativas para possibilidade de continuidade do trabalho de assessoria, em uma ótica sobre “o que mudou em nossas vidas e o que precisamos para continuar o fortalecimento da Agroecologia”.

Reunidos em pequenos grupos, agricultores avaliaram
ações proporcionadas pelo Projeto Taramandahy

Depois de servido o almoço agroecológico, as presenças de Rafinha Duarte – terapeuta e agroecologista que cuida da saúde integral e Sebastião Pinheiro, referência da agroecologia no Brasil e na América Latina, presentearam a todos com seu saber, enaltecendo ainda mais este momento de troca de experiências e expectativas para o presente e futuro da Agricultura Familiar Agroecológica.

Momentos únicos com Sebastião Pinheiro e Rafinha Duarte, como este em que, emocionados,
posam com a agricultora Milda Melo durante
entrega de kits de publicações do Projeto Taramandahy

Rafinha Duarte é terapeuta holística da saúde integral e coordena o Espaço CUIDI, e Gravataí/RS. Ela facilitou duas, das três oficinas voltadas às mulheres e à agroecologia realizadas pelo Projeto Taramandahy – Fase III. Neste encontro, ela chamou a atenção para a necessidade de uma nova consciência sobre o planeta e os seres que o habitam, e relembrou os primeiros passos da Associação Anama há mais de vinte anos, reforçando a necessidade de exercitarmos um novo olhar sobre todas as coisas:

“Quando a gente percebe o bem que a Anama fez, quando se admira o bem que se faz. É simplesmente ajudar o outro a ter um novo olhar sobre as coisas, a mudança de vida que está acontecendo com nós todos, maravilhosamente, vem com um novo olhar sobre as criaturas. Uma vez quando eu morava nesta terra, todos consideravam normal que se passasse veneno nas plantas. Este novo olhar que vocês hoje falaram que o Projeto Taramandahy da Anama ajudou a conquistar é o mesmo que devemos ter sobre tudo… Este olhar novo sobre tudo é a única coisa que pode salvar o planeta, todos nós temos uma única missão nesse mundo, ajudar o outro a enxergar”, ressaltou.

 Para uma plateia emocionada pelas palavras ditas com tanto amor por Rafinha Duarte, o engenheiro agrônomo e florestal Sebastião Pinheiro iniciou exaltando a reflexão feita por ela, sobre o trabalho do Projeto e Anama para a agroecologia e agricultura familiar, realizado na região (da bacia do rio Tramandaí), repercutindo em todo Brasil e dentro da universidade. “Na complexidade da vida na Terra, da vida dos microorganismos presentes no solo, a razão para destacar a atuação da Anama para a construção da agroeoclogia: É bem mais complexa, então vocês vem a dimensão da agroecologia e a dimensão deste trabalho.”

Sebastião citou o mitologista Joseph Campbell ao falar do ser ultrassocial: “o agricultor agroecológico é o ser ultrassocial que alimenta a humanidade, ele transforma o sol em cadeias de carbono, de proteína e este trabalho é magnifico de compreensão da natureza – A agricultura é uma atividade fora da natureza. Normalmente não se faz a relação da dimensão deste trabalho nesta pequena região, mas que serve de estímulo para uma galáxia”, reforçou. Ele usou imagens dos seres ultrassociais agricultores: além do ser humano, os cupins, as formigas, as toupeiras e as abelhas, apontando as causas da atual mortandade destas últimas, sendo o uso dos agrotóxicos como o DDT e venenos mais modernos como os neonicotinoides sintéticos: “Não é necessário dizer que agrotóxico não é produzido para ser usado na agricultura, é uma arma de guerra que se usa na agricultura para baratear e ter fábricas aparentemente civis, quando todas elas são fabricas militares”, acusou.

“As abelhas estão morrendo por armas químicas étnicas. Por isso este trabalho que o Projeto/Anama faz tem todo este reconhecimento”, mostrou o ativista científico em agricultura saudável, cromatografia de Pfeiffer e agroecologia camponesa.

Agricultura agroecológica no Litoral Norte do RS

Nos últimos dois anos de atuação, o Projeto Taramandahy – Fase III realizou um conjunto amplo de atividades para colaborar com o processo de transição para agricultura de base ecológica da agricultura familiar na região da bacia hidrográfica do rio Tramandaí. Hoje, 50 famílias presentes em sete municípios são beneficiárias desta assessoria técnica, produzindo mais de 20 produtos de forma ecológica e comercializados em feiras, entrega de cestas, cooperativas e supermercados.

No total, são mais de 420 hectares da região, onde as famílias realizam entre produção orgânica certificada (mais de 280 ha), produção em transição e de produção agroecológica não certificada. Este contexto envolveu a substituição do uso de agrotóxicos e adubos de alta solubilidade na agricultura, estimando-se que a cada ano, cerca de 900 kg/litros destes químicos poluentes deixam de ser utilizados, beneficiando a saúde do solo, da água, das plantas e das pessoas que produzem e consomem alimentos da agricultura familiar agroecológica.

Nesta terceira Fase do Projeto Taramandahy, o trabalho voltado à agricultura familiar em apoio à transição para a agroecologia ampliou o número de famílias e a abrangência territorial. O universo de famílias que ainda produzem de forma convencional e o crescente interesse pela transição para a agroecologia indicam a possibilidade de ampliação do trabalho, bem como do seu impacto sobre a conservação dos das águas da Bacia Hidrográfica do Tramandaí.