E 2019 promete ser ainda mais ativo com atividades que intensificam a gestão da água da Bacia do Tramandaí
Em um ano de gestão dos recursos hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí(BHRT), o Projeto Taramandahy – Fase III superou muitas metas propostas para dois anos. São quase 40 atividades distribuídas em 7 eixos que integram conservação das águas, dos solos e das florestas. Reunimos aqui alguns números alcançados entre 2017 e 2018 e que vem contribuindo significativamente para o cuidado com o Meio Ambiente.
• 14 pontos da BHRT avaliados em 3 campanhas e mapeamento dos impactos ambientais em 5 lagoas;
• 17ha de áreas reflorestadas monitoradas e 4,5ha de áreas reflorestadas manejadas;
• 3.345 mudas de espécies nativas produzidas;
• 21 meliponários de polinizadores monitorados e conservados;
• 39 famílias agricultoras em transição para agricultura de base ecológica e produção orgânica; • 30 agentes voluntários mobilizados para prevenção a desastres naturais em Maquiné;
• 268 pessoas mobilizadas para o Plano de Ação da Bacia Hidrográfica;
• 462 participantes das formações de educação e sensibilização ambiental, educação alimentar e nutricional;
• 210 pessoas alcançadas pela difusão das tecnologias sociais aplicadas no Centro de Referências Ambientais;
• 400 participantes do planejamento territorial e ambiental indígena Mbyá Guarani.
O Projeto Taramandahy – Fase III é realizado pela Anama e patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal.
Confira à seguir algumas ações, entre tantas realizadas pelo Projeto Taramandahy – Fase III neste primeiro ano.
QUALIDADE DA ÁGUA DA BACIA DO TRAMANDAÍ
Com o propósito de fornecer dados sobre os impactos causados por diferentes interferências nas águas da Bacia do Tramandaí, e que possam servir de base para ações de proteção, o Projeto Taramandahy – Fase III realiza monitoramento da qualidade da água em 14 pontos, analisando 30 parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos, em parceria com o Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CECLIMAR/UFRGS).
Até o ano de 2018 foram feitas três campanhas de monitoramento, das quais se obteve resultados parciais, que indicam que as águas das lagoas mantiveram bons níveis de oxigênio dissolvido, com média de 7,83 mg L-1 (miligramas por litro) e média de 7,34 mg L-1 nos corpos lóticos, ambos atendendo à legislação. Porém, foi registrado um mínimo de 5,70 mg L-1, que enquadra o corpo hídrico na classe 2, fugindo ao enquadramento proposto pelo Comitê da Bacia do Rio Tramandaí.
Os principais contaminantes foram detectados: fósforo, nitrogênio total e coliformes termotolerantes, que levaram às classes 2, 3 e 4, ou seja: a qualidade da água da Bacia está mais baixa que a definida no enquadramento determinado pelo Comitê Tramandaí em consonância com os ideais da sociedade.
A boa notícia é que a qualidade da água está ótima nas lagoas Porteira e Caconde (esta abastece o município de Tramandaí), e na nascente do rio Maquiné. O Índice de Qualidade de Águas (IQA) também foi avaliado, sob o qual se obteve índice de qualidade ótima para 69%, boa para 29% e regular para 2% das amostras.
ÁGUA É TEMA PRINCIPAL DE SEMINÁRIO
A parceria entre Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí e Projeto Taramandahy tem sido fundamental para tornar possível a manutenção de seus processos organizacionais e a mobilização social a partir de atividades, como o Seminário ‘Conversas sobre a Água’. O evento realizado em 2018 na UNICNEC (Faculdade de Osório), com apoio da Secretaria Estadual de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do RS (SEMA) teve como foco primordial a realização de consulta pública à setores da sociedade civil para avaliar o diagnóstico da Fase C do Plano da Bacia, apresentado por empresa contratada pela SEMA.
Em tempo, a ocasião possibilitou o esclarecimento sobre a situação atual do Comitê, a apresentação do Projeto Taramandahy – Fase III, atualização sobre a qualidade e quantidade dos recursos hídricos na Bacia e o debate sobre a “Gestão das Águas” em um processo democrático e participativo para elaboração do Plano da Bacia.
REFLORESTAMENTO
Entre as ações integradas para melhoria da qualidade da água, o monitoramento de 17 hectares de áreas reflorestadas nas fases anteriores do Projeto Taramandahy foi realizado neste primeiro ano. O biólogo responsável pela avaliação, Rodrigo de Magalhães explicou que foi possível identificar o sucesso da recuperação na maior parte das 37 áreas, com bom desenvolvimento dos espécimes plantados, além de reocupação pela fauna e regeneração natural da flora. Infelizmente, em algumas áreas, se identificou impactos e perdas, em consequência da erosão de rios e arroios.
CHUVA DE SEMENTES
O Projeto Taramandahy buscou no voo livre uma forma inusitada de ajudar a floresta com a Chuva de Sementes de Juçara em Voo livre, realizada em outubro, reunindo público e pilotos para chamar a atenção para a palmeira juçara (Euterpe edulis) espécie em extinção produtora do fruto conhecido como ‘açaí da Mata Atlântica’. Durante os voos de asa delta e paraglider, 46 kg de sementes foram dispersadas dentro dos limites da APA (Área de Proteção Ambiental) Morro da Borússia, em Osório.
A ideia de espalhar sementes de juçara durante os voos surgiu há 20 anos, quando pilotos do Clube Anhangava de Voo Livre – parceiro no evento – decidiram chamar a atenção para a necessidade de preservação da espécie, cortada indiscriminadamente para extração do palmito. Uma alternativa ao uso da palmeira é a coleta e despolpa do fruto, que é feita por agricultores ligados à Rede Juçara. A próxima edição do evento ocorrerá dia 2 de fevereiro.
AGRICULTURA ECOLÓGICA
O trabalho de assistência técnica e extensão rural – ATER – desenvolvido com o objetivo de fortalecer a agricultura familiar de base ecológica faz parte da gestão dos recursos hídricos proposto pelo Projeto Taramandahy. Uma das ações é a visita de intercâmbio às experiências de agricultura sustentável. Segundo o assessor técnico Gustavo Martins, entre os objetivos do intercâmbio está o fortalecimento da coletividade das famílias agricultoras atendidas.
Seguindo a proposta, em outubro as famílias conheceram agroindústrias familiares e propriedades ecológicas no município de Santo Antônio da Patrulha. A primeira parada foi Agroindústria da família De Paula, aonde seu Domingos, dona Nelci e um casal de filhos produz panificados e doces de corte, geleias e frutas cristalizadas com certificação orgânica e o cultivo da matéria prima. O casal nasceu na cultura da cana-de-açúcar e há três anos, após idas e vindas, estão produzindo de forma ecológica: “Fico muito feliz em ver bastante gente nova, a agricultura tem lugar para todos e devemos valorizá-la”, ressaltou seu Domingos, entusiasmado com a visita.
Na outra agroindústria familiar visitada, seu Jaci e dona Carmen Lúcia Barcelos apresentaram o espaço de garagem adaptado para produção de queijos tipo cottage, doces de leite e iogurtes derivados do leite das vacas que recebem alimentação ecológica. Eles relataram sobre o desafio de sair do circuito de atravessadores de leite para abrirem seu próprio negócio.
As irmãs Sheila e Danielle Peirott Paz conduzem o Sítio Sheda Paz, propriedade de 2,5 hectares, com produção de grande diversidade de alimentos. Elas mostraram as técnicas ecológicas que ajudam na produção orgânica e ofereceram aos visitantes um delicioso café da tarde à base de PANC (plantas alimentícias não convencionais) e medicinais.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL, ALIMENTAR e NUTRICIONAL
Um cronograma de atividades multiplicadoras da educação e sensibilização ambiental, educação alimentar e nutricional está sendo realizado pelo Projeto Taramandahy – Fase III, com ações pela soberania e segurança alimentar, valorização da sociobiodiversidade e estímulo à Educação Ambiental em espaços pedagógicos. Em 2018, foram 369 pessoas envolvidas nas diferentes formações.
Uma delas é o Curso de Culinária Agroecológica, Gastronomia e Saúde, que segue em 2019. Nos dois primeiros encontros realizados, debates socializaram conhecimentos nutricionais, funcionais, medicinais, socioambientais, econômicos e culturais, também sobre a influência das indústrias de sementes, alimentos, agrotóxicos, transgênicos e farmacêutica.
Também foram elaboradas receitas com alimentos ecológicos e plantas alimentícias não convencionais (PANC) pelas facilitadoras: assessora técnica Valéria Bastos, técnica em meio ambiente Janaína Soares e pelo chef Rodrigo Bellora, fundador do Convivium Slow Food da Colônia da Imigração Italiana, proprietário do restaurante Valle Rústico, em Garibaldi/RS e idealizador dos conceitos ‘cozinha de natureza’ e ‘ecogastronomia’. Os cardápios geraram banquetes que foram degustados pelos participantes.
O Curso Frutas Nativas da Mata Atlântica: processamento e consumo foi realizado entre junho e outubro e envolveu 49 pessoas ao objetivo de qualificar empreendedores vinculados à agroecologia, estimular o consumo de alimentos da agricultura familiar, aproximar consumidores e produtores e divulgar a inclusão de produtos agrobiodiversos nos cardápios familiares e escolares.
No primeiro encontro, foram desenvolvidas receitas de sucos engarrafados, caldas e kombucha pelas facilitadoras Marta Bergamo e Vanessa Oliveira; no segundo, teve elaboração de receitas salgadas e doces com polpas das frutas, com a chef Juliana Severo e a confeiteira Ana Lorenzi; e no último, deu-se enfoque à qualidade dos alimentos processados, às Boas Práticas de Fabricação (BPFs) e às ferramentas de controle de qualidade de polpas de frutas, com facilitação da assessora técnica Mariana Ramos e do eng. de alimentos Josué Martins.
A Formação em Permacultura na Escola, realizada na Escola Técnica Rural de Osório nos meses de setembro e outubro, alinhou conhecimentos do biólogo e permacultor Jeferson Müller Timm e do coordenador do Projeto, ecólogo e permacultor Dilton de Castro, que conduziram teoria e vivências práticas pelos princípios da Permacultura. No primeiro encontro, o professor Telvi Favin também apresentou o espaço da Escola Rural, com suas implantações agroecológicas, manejo, abordagem pedagógica, bem como sobre o envolvimento dos alunos na manutenção e orientação de pesquisas. Em outro momento, todos saíram a campo para conhecer práticas em espaços permaculturais no município de Maquiné: no Centro de Referências Ambientais Taramandahy, na Aldeia Mbyá Guarani Ka’agui Porã e na Pousada Ecológica Recanto da Mata.
Os participantes produziram projetos de design de Permacultura, para implantação em espaços escolares e públicos. A diversidade de temas focados nas práticas permaculturais foi apresentada no último encontro: compostagem doméstica, captação da água da chuva e rega com gotejamento em horta suspensa; sistema de bombeamento de água movido à energia solar; geodésica construída com bambu destinada a viveiro; horta feita com reaproveitamento; e compostagem orgânica. E para fechar com chave de ouro, o cacique André Benites da Aldeia Ka’aguy Porã deu um relato de experiência sobre a Escola Guarani Jeapo Yvyrupare, construída em mutirões interculturais, também sobre a cultura Mbyá Guarani em ação em seu território ancestral.
A qualificação do trabalho pedagógico de Educação Ambiental também foi destaque no curso Árvores da Mata Atlântica: possibilidades para educação nas escolas, com o uso de viveiros de mudas enquanto ferramentas na prática educativa. O curso foi realizado entre junho e outubro, reunindo professores, funcionários de escolas, ambientalistas e agricultores.
A formação teve facilitação dos assessores técnicos do Projeto Luciano Guterres, Cláudia Schirmer, Rodrigo de Magalhães e coordenador Dilton de Castro. Foram 40h/aula com teoria focada na preservação e cuidado com o bioma Mata Atlântica, abordagem de sua caracterização geológica, ecológica, questões socioambientais e de sustentabilidade, reconhecimento de espécies arbóreas e legislação ambiental.
As práticas envolveram oficina de viveirismo, saídas de campo, atividades à distância monitoradas e apresentação dos projetos. Como resultado, 11 projetos pedagógicos elaborados pelos participantes, servirão de base para implantação nas distintas realidades.
MBYÁ GUARANI NO LITORAL NORTE GAÚCHO
Os Encontros das Comunidades Mbyá Guarani do Litoral Norte (Nhemboaty MbyáKuery YyE´ë Reguá) tiveram apoio do Projeto Taramandahy para realizar a gestão territorial e ambiental de oito comunidades indígenas da região da Bacia do Tramandaí. Nos seis encontros participaram cerca de 400 pessoas. O assessor indigenista Gabriel Poester destacou que os Nhemboaty superaram a meta de 300 participantes e possibilitaram o fortalecimento interno das aldeias, sua articulação e a solidariedade, a formação de um Conselho Local de Saúde.
A gestão territorial e ambiental das terras indígenas também foi promovida por meio de ações de recuperarão de práticas tradicionais de agricultura guarani, unindo inovações tecnológicas, como os sistemas agroflorestais. Durante os eventos, foi construída ‘Casa de Reza’ em uma das aldeias, feito um mutirões de plantio e elaborados documentos com proposições para o poder público.
*Material impresso no Boletim Informativo Nº3, disponível também em download neste portal.