Reflorestamento, recursos hídricos, espécies nativas em extinção, turismo ecológico e esportes limpos foram temas tratados no evento Chuva de sementes de juçara em voo livre dia 9
Sol e céu azul no sábado dia 9 de fevereiro. Estava tudo certo para voar sobre o município de Osório e dispersar sementes de juçara (Euterpe edulis), proposta do evento Chuva de sementes em voo livre. No entanto, faltava o combustível principal: o vento. Segundo o sócio fundador do Clube Anhangava de Voo Livre, Tomaz Marcelino de Oliveira, a Rampa Nordeste está localizada em um quadrante entre as direções sudeste e nordeste, sendo estas direções de ventos ideias para voar. Na manhã daquele sábado, soprava um sudeste fraco demais, com previsão de aumento na parte da tarde.
O público foi chegando aos poucos e deslumbrando-se com um dos cenários mais belos da cidade, enquanto os pilotos iam se equipando com calma, ao passo que o clima ficava cada vez mais descontraído. Às 15 horas, foi feita a abertura do encontro, quando o coordenador do Projeto Taramandahy, ecólogo Dilton de Castro, apresentou as estratégias integradas para realizar a gestão dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do Rio Tramandaí, das quais a Chuva de sementes visa chamar a atenção para a necessidade de manutenção das florestas, de seu reflorestamento, valorização das frutas nativas, às práticas de esportes limpos, de turismo ecológico e de contemplação à paisagem das lagoas, vista de cima da rampa, e às aves pouco recorrentes em ambientes urbanos, como o gavião tesoura visualizados. Em seguida, com ventos em direção nordeste forte, iniciaram-se os primeiros voos de asa delta e paraglider para dispersar as sementes de juçara na Área de Proteção Ambiental – APA – do Morro da Borússia.
A Chuva de Sementes é promovida pelo Projeto Taramandahy – Fase III, da Anama, com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal. Conta com parceria do Clube Anhangava de Voo Livre e a participação de praticantes de outras regiões e bacias hidrográficas: além do Anhangava, de Osório, estavam representantes do voo livre de Rolante (município da bacia do Rio dos Sinos), da Associação Gaúcha de Voo Livre (região da bacia do Rio Gravataí e do Guaíba) e da AVTVL (Associação do Vale do Rio Taquari de Voo Livre). A ideia, segundo Tomás, é imitar os pássaros: no voo livre e na dispersão de sementes na florestas.
Entusiasta da conservação da juçara (famosa por seu palmito e açaí), o engenheiro florestal, associado da Anama, assessor do projeto e idealizador da atividade Antônio Augusto Ungaretti Marques lembrou que tudo começou há vinte anos, quando dos agravantes cortes e roubos da espécie, para extração de seu palmito amplamente consumido na culinária do Brasil:“…Enquanto não houver plantio sustentável, vai continuar havendo roubos da palmeira, que fez com que esta espécie entrasse em ameaça de extinção, em função do palmito, iguaria gastronômica que obriga a morte da árvore para que ocorra sua extração.”
Destaque para a única praticante feminina do voo livre no evento: a chilena Lídia Pulgar, da AVTVL. Lídia fez um belo voo pelos céus de Osório, sendo piloto de paraglider há pouco mais de um ano. Ela e seu companheiro Marcos Aldabe, além de praticantes de voo livre, são montanhistas e estão em treinamento para escalar montanhas e voar de cima delas.
“A ideia é muito bonita, fazer essa união entre o esporte e a conservação ambiental, ainda mais quando nosso esporte é realizado na natureza! Imagina que lindo que vai ser um dia, voar e ver essas palmeiras e dizer: pode ser que eu joguei essa semente! …Agradeço essa iniciativa linda de cuidar da natureza, e trazer essa consciência de plantar uma semente!”, declarou Lídia sobre o evento.
O resultado desta Chuva de sementes foram 36kg de sementes pré-germinadas dispersadas por pilotos de quinze asas-deltas e dez paragliders. O Projeto Taramandahy realizará mais uma chuva neste ano de 2019, a previsão é de que seja no início da primavera.